segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

RS: A CADEIA PRODUTIVA DO LEITE

Foto: Paixão Capixaba

Por muito tempo, a cadeia produtiva do leite no RS teve, em diversas regiões, certas peculiaridades que propiciaram ao produtor poucas ou apenas uma opção para a venda do seu produto (monopsônio). A desregulamentação do setor (capaz de aumentar a concorrência entre as empresas); a consolidação do Mercosul, a abertura comercial ao exterior e a implantação do Plano Real (capaz de gerar aumento na demanda por lácteos, visto inserir no mercado de consumo pessoas consideradas de pouca/baixa renda);  são acontecimentos importantes ocorridos a partir da década de 90, responsáveis de maneira significativa por transformações no cenário que se via instalado.

Em vista a tais acontecimentos, esta situação começa a ser verificada de maneira diferente a partir do ano de 2004: Observa-se, desta data em diante, um aumento significativo no número de empresas captadoras, principalmente em regiões tidas como destaque para tal atividade (o que gera desenvolvimento em várias esferas); como é o caso do Norte do estado (devido à perecibilidade do produto e da oneração dos custos de transporte e de negociação). Tal situação gerou, de maneira gradativa, um aumento na disputa pela matéria prima, possibilitando ao produtor maiores opções para a venda de sua produção e mudanças nas características das transações entre agricultor e empresa processadora, a partir da intensificação da concorrência na aquisição da matéria prima local.

As transações entre empresa captadora e fornecedor de leite geralmente não foram/são estabelecidas por contratos formais (exceto em transações baseadas no Conseleite e Cepea). Desse modo, o produtor decide quando deseja parar de fornecer o produto à empresa.

Nos tempos/regiões em que a estrutura de monopsonio (apenas uma/poucas empresas captadoras) predominava; não havia definição prévia dos preços a ser pago pelo leite coletado, fato este que poderia ocasionar ações oportunistas por parte do comprador. Com o advento da concorrência, as negociações passaram a ser mensais e pré-estabelecidas por meio de contratos informais de curto prazo. Percebe-se que nesse sentido existem ações oportunistas por parte de alguns produtores, que por sua vez mesmo estando satisfeitos com o preço recebido, demonstram insatisfação, realizando pressão e ameaça para migração de empresa no intuito de conseguir melhor remuneração pelo seu produto.

Quanto às políticas de formação de preços, nota-se certa indefinição por parte de algumas empresas. O volume produzido se mantém como o maior critério e, o aumento/diminuição do mesmo, faz com que os preços praticados venham a se diferir. Testes de laboratório no intuito de avaliar a qualidade do leite vêm se tornando mais freqüentes e, com eles, o desenvolvimento de programas baseados na remuneração pela qualidade do produto entregue, ação esta que sem dúvida traduz-se em estímulo à melhoria contínua da qualidade, em ganhos financeiros/sanitários ao produtor, de rendimento às empresas que o praticam e na qualidade do produto final para o consumidor.

Contudo, é comum observar migrações de produtores que comercializam seu produto a uma empresa que remunere pela qualidade da matéria prima para outra que sequer realiza avaliações: O fato de receber uma oferta mais atraente perfaz um motivo sólido para o encerramento/início de uma negociação. Infelizmente, ao passo em que se vê nas ações voltadas à melhoria da qualidade uma maneira de impulsionar a cadeia, promover exportações, entre tantos outros, têm-se também um contraponto: Para uma percentagem de produtores, essas ações são vistas como oportunas e estão relacionadas à redução dos preços praticados, em vista a crença na adulteração de resultados.

Se por um lado o aumento da concorrência (oligopsonio); causou o oportunismo por parte do fornecedor e a freqüência nas transações, refletindo de maneira direta no aumento do custo das negociações, por outro propiciou mudanças importantes na cadeia. O desenvolvimento de estratégias capazes de aumentar o vínculo/tempo de relação entre empresa/produtor são ações importantes e vem sendo praticadas por certas empresas (mesmo que na sua maioria de maneira ainda frágil); no intuito de tornar as negociações mais sólidas e duradouras.

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