sexta-feira, 15 de junho de 2012

QUAL É O CUSTO DA QUALIDADE DO LEITE?

O setor leiteiro vem sofrendo grandes alterações nos últimos anos, dentre as mudanças, a que mais se destaca é a mudança no sistema de pagamento do leite comercializado. Até então, o pagamento fora composto por um único item: o volume comercializado, porém, nos últimos anos o volume vem perdendo espaço na composição do preço de leite e a qualidade representa a realidade dos sistemas de pagamento de leite.

Diante deste cenário, os produtores buscam informações/tecnologias a fim de garantir a melhoria da qualidade e as dúvidas que surgem são as seguintes: Quanto custa produzir leite de qualidade? Qual o retorno financeiro?

Para obter o custo da qualidade do leite, deve-se somar os valores gastos com produtos necessários para se atingir os padrões ideais de qualidade no leite. Uma vez que cada propriedade utiliza esses recursos de maneira diferente, não existe um consenso em relação a participação desses produtos no custo total de produção. A quantidade de pré-dipping, pós-dipping e papel toalha que se gasta com uma vaca de 10 litros/dia, por exemplo, é a mesma quantidade utilizada com uma vaca de 20 litros/dia, porém, o custo destes produtos por litro de leite produzido é o dodro na vaca de 10 litros em relação a vaca de 20 litros. Exemplo este que também pode ser aplicado à um equipamento de ordenha de 4 conjuntos, onde em manutenção e produtos de limpeza são gastos em torno de R$ 200,00/mês. Se este equipamento ordenhar mensalmente 10.000 litros de leite, o custo será de 2 centavos por litro de leite produzido, porém se este mesmo equipamento ordenhar mensalmente 15.000 litros de leite,o custo cai para 1,5 centavos/litro de leite. Percebe-se então que a participação de alguns itens variam de acordo com a eficiência com que cada propriedade utiliza os recursos em seu  processo produtivo.

Segundo dados do ProLeite da BRF no Rio Grande do Sul, obtidos em propriedades com acompanhamento técnico, o custo do item material de ordenha tem girado entre 1,5 e 2 centavos por litro de leite, o que representa em média de 3% a 5% do custo operacional efetivo de produção.

Na tabela abaixo é apresentado os valor gastos ao mês e por litro de leite produzido com material de ordenha numa propriedade com 35 vacas lactantes, produzindo 20.000 litros de leite/mês e com um equipamento de ordenha canalizado com 4 conjuntos.

No gráfico abaixo é possível ver que o item de maior relevância é o detergente alcalino (utilizado diariamente), seguido da manutenção do equipamento (item que compreende a troca de teteiras, mangueiras e reparos de rotina no equipamento) e perfazendo um total de R$ 298,67 gasto ao mensalmente, assim é possível afirmar que o custo da qualidade nessa situação é de 1,5 centavos por litro de leite produzido.


Tendo o custo da qualidade é possível calcular o retorno financeiro esperado com base nos parâmetros dos sistemas de pagamento por qualidade. Com manejo adequado de ordenha aliado ao bom resfriamento do leite é possível produzir leite com alto padrão de qualidade (CBT = 50.000 e CCS = 400.000), o que garante, respectivamente, em média 3 e 1,5 centavos de bonificação. Isso significa um incremento na renda bruta de R$ 900,00/mês (4,5 centavos x 20.000 litros de leite).

Sendo assim, com um investimento mensal em qualidade do leite de R$ 298,67 e com uma bonificação de R$ 900,00, tem se um retorno financeiro de R$ 601,33 o que representa 200 % sobre o valor investido. Caso o produtor maximize o uso desses recursos e baixe a CBT para 20.000 e a CCS para 200.000 o ganho passa para mais de R$ 1.100,00 por mês referente a bonificação por qualidade.

Investimentos realizados afim de melhorar a qualidade do leite são fundamentais para permanência dos produtores na atividade, tornando-os mais competitivos através do fornecimento de matéria prima de qualidade, atendo a legislação vigente e tendo a oportunidade de receber um preço diferenciado.

Por: Rodrigo Zambon e Alencar Schneider.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

ALTERAÇÃO NO ÍNDICE CRIOSCÓPICO, FRAUDE OU NÃO ?


O índice crioscópico é a medida do ponto de congelamento do leite, o teste de crioscopia é utilizado em vários países do mundo, é um teste de alta precisão, a variação fica na casa de 0,02 ºH para mais ou para menos. A IN 62 estabelece que o índice crioscópico deva estar entre -0,530 Hº e -0,550 Hº (equivalentes a -0,512 ºC e -0,531ºC). Esse teste é realizado na recepção de leite para identificação de fraudes causadas pela adição de água e serve como prova para a condenação do leite. Porém, nem sempre isso é real, existem vários outros fatores que podem interferir no índice crioscópico do leite, tais como, falhas na drenagem do equipamento de ordenha, genética, disponibilidade de alimentos, estagio de lactação, fatores climáticos e nutricionais, entre outros. Esses fatores podem agir isoladamente ou associados e o índice crioscópico pode apresentar alterações.

Alem da adição de água, responsável por aumentar o índice crioscópico do leite (mais próximo de zero), quando ocorre o aumento de substâncias dissolvidas no leite, ou no caso de acidificação ou adição de substâncias reconstituintes e/ou solutos, a tendência é de se alterar o ponto de congelamento do mesmo, abaixando o seu valor (isto é, afastando de 0ºC), no caso da acidificação do leite o acido lático produzido pela fermentação também tem efeito osmótico, por isso pode reduzir (ficar mais negativo) a crioscopia do leite.
Foto 1. Crioscópico Eletrônico

Descartando a possibilidade de fraudes, devemos atentar para os seguintes fatores:

Fatores genéticos podem interferir no índice crioscópico, já que algumas raças têm maior teor de sólidos do que outras é o caso da raça Jersey em relação à raça holandês. O clima e a época do ano podem alterar produção de forragens reduzindo a quantidade de energia disponível na alimentação, consequentemente provoca a redução da lactose do leite que é um regulador da pressão osmótica do volume de leite e é responsável por 50% da depressão do ponto de congelamento do leite. A lactose, cloro, citrato e ácido lático são responsáveis por aproximadamente 80% do total da depressão do ponto de congelamento. Em um estudo finlandês, pesquisadores encontraram que o ponto médio de congelamento de amostras de leite com menos de 4,7% de lactose foi -0,537 °C e com mais de 4,8% de lactose foi de -0,544 °C.

A ingestão elevada de água logo antes da ordenha pode resultar em diminuição pronunciada da pressão osmótica do sangue e, consequentemente do leite, o que leva a elevação do índice crioscópico. Outros estudos mostram que tem tendência de aumentar do índice crioscópico em condições de elevadas temperaturas, fato que induz ao desconforto animal e modificações fisiológicas que não serão abordadas aqui.
Dietas de baixa qualidade e/ou desbalanceadas também influenciam no ponto de congelamento do leite. Amostras de leite coletadas individualmente de vacas lactantes com esse problema apresentam crioscopia menor que -0,500 Hº

Segue abaixo algumas recomendações para resolver esses problemas:
      Identificar quais os animais com problema (amostragem individual).
  Fazer um correto balanceamento da dieta, energia x proteína e volumoso x concentrado.
   No caso dos minerais é importante aumentar o teor de Potássio, Sódio, Magnésio sem aumentar o Cloro. Revisar com um nutricionista a mineralização dos animais, reforçar a quantidade de minerais para as vacas fazendo a ingestão forçada.

Por: Rodrigo Zambon.
Foto: PZL Tecnologia.