terça-feira, 31 de janeiro de 2012

ESTIAGEM REDUZ A OFERTA E PREJUDICA A QUALIDADE DO LEITE

A estiagem que atinge o Rio Grande do Sul vem acumulando perdas para os produtores de leite e para o gado leiteiro. Dentre as principais perdas, a produção de leite acumula prejuízos aos produtores devido à baixa disponibilidade de pastagens o que afeta também o peso dos animais, levando até a morte em casos mais extremos. A redução na produtividade é variável de acordo com as regiões, mas estimam-se perdas em torno de 12% de acordo com Jorge Rodrigues, produtor de leite da BRF e presidente da FARSUL. Essa perda é influenciada devido às condições climáticas e a estrutura dos produtores de leite. Produtores bem estruturados percebem impactos menores, pois possuem um estoque maior de alimentos, principalmente silagem e feno, que permite aumentar o fornecimento desses alimentos quando a oferta de pastagem diminui mantendo a média de produtividade, porém nestes casos o que se observa é o aumento dos custos de produção. No caso dos produtores com baixa infraestrutura, as perdas são maiores devido à falta de alimento volumoso.

Essa queda na produção de leite provocada pela falta de alimentos, além de trazer prejuízos aos produtores de leite, afeta também às indústrias, pois tem como conseqüência a diminuição da oferta de leite e também a sua qualidade. A escassez de alimentos volumosos tem como conseqüência a diminuição da gordura e dos sólidos do leite, fazendo com que a indústria necessite de mais leite para a produção de um quilo de leite em pó, por exemplo. Como atualmente a grande maioria das empresas possui um sistema de pagamento de leite com valorização na qualidade é inevitável que os produtores sejam prejudicados também no preço recebido pelo litro do leite comercializado.

Ainda em relação à qualidade do leite existe a tendência da CBT (Contagem Bacteriana do Leite) aumentar devido ao aumento da temperatura ambiental que interfere na proliferação de bactérias, é o caso principalmente de produtores que ainda utilizam resfriadores de leite de imersão, onde o leite necessita de um tempo maior para chegar á temperatura ideal de conservação. Nesses casos deve se agitar o leite várias vezes ao dia até que o mesmo chegue a temperatura inferior a 7°C. Outro fator preocupante é redução na disponibilidade de água para o consumo animal e principalmente para a higienização dos equipamentos utilizados na ordenha, o que acarreta no comprometimento microbiológico, ou seja, maior contaminação da água. Assim a água utilizada para a limpeza dos equipamentos deve ser clorada para diminuir a carga microbiológica.

Todos estes impactos já podem ser visíveis no Rio Grande do Sul e os produtores das regiões mais afetadas pela estiagem, como a região noroeste, ainda estão fornecendo aos animais silagem da safra anterior, considerada de boa qualidade. Sendo assim esses impactos serão agravados quando os produtores iniciarem o fornecimento da silagem desta safra, oriunda de lavouras de milho que estavam praticamente secas, com menor porcentagem de nutrientes.

Algumas estratégias podem ser adotadas para minimizar esses impactos, dentre elas o conforto animal e a nutrição das vacas em lactação, merecem atenção especial. A forma encontrada pelos produtores para manter a produção é aumentar o fornecimento de ração concentrada, silagem e feno. Mas existe outras estratégias que devem ser adotadas, como maximizar o pastoreio nas horas mais frescas, principalmente à noite e deixar os animais em local sombreado durante o dia com disponibilidade de água. A alimentação volumosa e concentrada deve ser fornecida no cocho duas a três vezes ao dia e deve ser balanceada para se obter o maior aproveitamento dos nutrientes, pois o consumo animal é reduzido em condições de clima desfavoráveis (altas temperaturas). Mas entende-se que cada vez mais se faz necessário investimento em irrigação para evitar perdas em conseqüência das estiagens.

Foto: André Carlos Dalmas (2012).